28 de out. de 2013

Capítulo 6

C - Laura? Que cara é essa? - perguntou, ao ver a amiga se aproximando com cara de poucos amigos.
Laura logo tratou de disfarçar a cara de antipatia.
L - Foi só um menino besta da minha sala que acabou de trombar comigo. Porquê as pessoas têm de ser tão desastradas?
Cecília e Paige olharam uma pra outra e caíram na gargalhada, deixando Laura com uma cara confusa.
C - Laura, a gente viu a trombada, e eu acho que eu conheço aquele cara de algum lugar... sei lá, a cara dele não me é estranha... de onde será que eu conheço esse ser? - Cecília realmente ficou pensativa por alguns instantes, tentando puxar da memória de onde era que ela conhecia aquele rosto. Sem sucesso, resolveu voltar ao mundo real - Mas Laura, me diz uma coisa... porquê é que você tá falando isso, quando você mesma é o desastre em forma de gente?
L - Eu NÃO sou desastrada.
C - É sim. Se não fosse, provavelmente não seríamos amigas, já que aparentemente eu só atraio este tipo de gente pra minha vida... by the way, essa é a Paige. Ela tá na minha turma, e é tão desastrada quanto você.
L - Olá. - Laura estendeu a mão pra cumprimentar a garota. Não que ela estivesse muito a fim. Era só cordialidade. A garota não precisava saber que, além de desastrada, ela era mal educada. Não, ela não era mal educada, ela só não estava tendo um bom dia.
P - Oi! Prazer! A Cecília falou tanto de você!
L - Falou, é? - olhou pra amiga, um pouco mais feliz. Sabia que Cecília nunca esqueceria dela, não importava quantas amizades novas surgissem em seu caminho. - Aposto que só queimou meu filme.
P - Na verdade ela falou que tinha uma amiga desastrada, mas que era uma excelente fotógrafa. E eu logo fiquei curiosíssima pra te conhecer, porque fotografia é a minha segunda paixão. A primeira é a dança!
L - Sério? Poxa, que legal! Queria eu ter talento pra dançar também...
P - A dança é uma dádiva que tá dentro de todo mundo. A única coisa que você precisa fazer é senti-la!
Logo, lá estava Laura conversando com a garota ruiva como se fossem amigas há anos. Paige convidou-as para almoçar no restaurante onde trabalhava, o Cheesecake Factory. Paige era de Poulsbo, uma cidade que ficava do outro lado do Lake Washington, a 3 horas de Seattle. Ela estava morando num condomínio de apartamentos perto da faculdade. Os pais a ajudavam com o aluguel, mas ela que bancava sozinha as outras contas.
Depois do almoço, Cecília e Laura voltaram para casa. O frio não permitiu que elas ficassem na rua por muito tempo. Cada uma tomou um banho bem quente, se agasalharam (apesar do sistema de aquecimento da casa funcionar perfeitamente, elas não dispensavam as malhas fininhas para ficar dentro de casa) e pediram uma pizza pela internet mesmo.
Laura passou todas as fotos que tinham tirado nesses 6 dias em Seattle para o computador, as tratou e jogou tudo no ORKUT.
Enquanto isso, Cecília parecia realmente concentrada em frente ao computador. “Meu... de onde é que eu conheço aquela figura que trombou com a Lali? Eu preciso lembrar... preciso lembrar... preciso lembrar... “ - ela pensou mais um pouco - Meu, a Laura disse o nome dele, como era mesmo?”
C - Ô Lali, como é o nome mesmo do carinha lá da sua sala, que trombou com você?
L - VELHO, num acredito que você conseguiu esquecer. O nome dele é ZACHARY! Quem é que se esquece de um nome desse?
C - Valeu! - voltou-se para o notebook compenetrada -  Zachary... Zachary... bom, vou apelar pro Google, né... - ela começou a digitar ZAC, e então o google deu pra ela a resposta : ZAC HANSON. - BINGO! Achei! É ELE! GENTE, NÃO ACREDITO!
Correu até o sofá onde Laura se encontrava.
C - Eu não disse que eu conhecia aquele carinha de algum lugar? - praticamente jogou o notebook da Laura no chão, e colocou o seu no colo dela. - OLHAÍ!
L - Quem é esse? - Laura ajeitou os óculos, que tinha acabado de deixar cair da mão com o susto que Cecília tinha lhe dado, e olhou fixamente para a tela do computador - Num sei quem é essa figura!
Cecília tinha aberto uma foto de 2000, quando o Zachary em questão era o cabeludo que cantava SAVE ME na novela das 8.
C - Laura. Olha bem pra cara dele, esquece o cabelo... quem você vê?
L - MY.SWEET.JESUS. É o Zacarias da minha sala!
C - SIM! O Zacarias da sua sala é o ZAC HANSON!
L - COMASSIM? QUEM É ZAC HANSON, GENTE? É aquele um que tinha a música na nov... É AQUELE ZAC HANSON? MENTIRAAAAAAA!
C - SIM! É AQUELE ZAC HANSON! MEU DEUS, VOCÊ ESTUDA COM O ZAC HANSON! MEU DEUS, ELE É IRMÃO DO TAYLOR! MEU DEUS, EU TENHO QUE CONHECER O TAYLOR HANSON!
L - OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOPA, devagar com o andor que o santo é de barro! Quem disse pra você que eu vou virar BFF do Zacarias de repente? Eu não fui com a cara dele, sendo ele Zac Hanson ou não!
C - Por favooooooooooor Laurinha lindaaaa! Eu preciso conhecer o Taylor Hanson!
L - Calma, Cecília Maria! Você sabe se ele ainda tá vivo? Se ainda existe?
C - UAI, mas se o Zacarias existe, porque é que ele não existiria? POR FAVOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOR?
L - Ai Cecilia, só o que me faltava, ter que lidar com suas tietagens a essa hora da noite. Vou pensar no seu caso.
Cecília sabia que a frase “VOU PENSAR NO SEU CASO” na verdade era : OK, vou te ajudar.
C - Obrigadaaaaaaa! Te amo te amo te amo!
Como no outro dia elas tinham que acordar cedo pra aula (o que significava que teriam que acordar ainda mais cedo pra pegar o ônibus no horário) , e ainda não tinham entrado no fuso local, trataram de dormir cedo.
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Zac ficara em casa jogando videogame a tarde toda, coisa que amava fazer... Aproveitou o dia enquanto os irmãos ainda não oficializaram os ensaios no estúdio que Taylor arrumara.
A noite deitado em sua cama fechava os olhos tentando dormir, mas a única imagem que vinha na sua cabeça era a da garota do óculos enorme trombando com ele. Quem diria que a garota da câmera estaria na sua sala? Afinal das contas, Zac tinha achado que ela era só uma turista. Era fácil achar turistas com câmeras profissionais que não sabiam nem pra quê tantos botões numa máquina só. Aparentemente, ele tinha se enganado. Ela gostava mesmo de fotografia. Só podia gostar MUITO, pra vir do Brasil fazer esse curso... Zac tremeu um pouco quando pensou em “BRASIL”... Toda aquela gente, aquele tumulto... aquelas garotas chorando, o agarrando pela mão, querendo ganhar um abraço, passar a mão no seu cabelo... a gritaria (que era comum em todos os lugares pelos quais passavam, mas no Brasil as garotas realmente tinham a garganta de ouro)... ele tinha ficado realmente um pouco traumatizado. “Tem certeza de que você é brasileira, Laura? Você é tão branca... e tão magra... num é possível. Tem algo errado nisso aí, produção!” - Zac riu de si mesmo. Como ele poderia estar pensando tanto numa garota que ele mal conhecia, e que era tão mal humorada? “Bom, pelo menos ela pareceu ser mal humorada... ai Zac, vai dormir, meu. Seu mal é sono!”
Acabou revirando de um lado pra outro na cama e o início de uma música nova veio a sua cabeça, ouviu o barulho na sala e foi ver qual dos irmãos estavam acordados.
- Ike, me ajuda aqui, anota essa letra...
Ike que estava assistindo a TV prontamente pegou um bloquinho de papel e uma caneta que estavam perto.
- Manda.

Passaram algumas horas trabalhando na canção, enquanto Taylor dormia em seu quarto. Quando Zac percebeu já era tão tarde que era fácil de prever o sono na aula seguinte.

23 de out. de 2013

Capítulo 5

Então chegou o tão esperado dia de aulas.... Laura não se aguentava de tanta ansiedade. Cecília estava com medo. Não sabia o que esperar... quer dizer, ela gostava de dançar, mas era FATO que ela ia se encontrar no meio de um bando de gente PROFISSIONAL... e ela era o quê mesmo? Ah, uma chef. ¬¬
- pensou sozinha, enquanto enfiava as sapatilhas dentro da mochila.
L - Cecíliaaaaa! Vamo! A gente vai se atrasar, minha filha! - Laura, quase na porta de saída, gritava desesperadamente. - A gente vai perder o ônibus, Cecyyyyy!
C - Juro. Quando eu chegar da aula, vou entrar na internet e procurar um carro usado mesmo. O mais barato que eu achar, vou comprar. Você sabe que eu odeio depender de ônibus, não dá pra ter imprevistos com ônibus.  - veio esbravejando pelo corredor - Ai Laurinha, acho que eu num vou. Tou com medo. - parou de andar e encarou a amiga.
L - AI POR FAVOR, NÉ CECÍLIA MARIA! Parece eu! A medrosa dessa casa sou EU, apenas páre de querer roubar meu posto!
C - Mas é que...
L - Mas é que nada! - andou até onde a amiga estava, e a pegou pela mão - vambora senão a gente vai se atrasar, e não quero me atrasar logo no primeiro dia. Já sou brasileira, não posso ser a atrasada também.

E lá se foram as duas, num frio de 6 graus, pro ponto de ônibus. Todas as pessoas passavam quentinhas e confortáveis dentro de seus carros, tomando seu café, e elas ali, no ponto de ônibus.
C - Droga. Precisamos de um carro. Tá frio. Quero ir embora. Num vou conseguir dançar desse jeito, já não sinto meus dedos dos pés.
L - Páre de reclamar ao menos um pouco e aprecie a paisagem! Olha que dia lindo que está fazendo! Olha à sua volta! Olha que céu azul, olha a luz do sol refletida na água...
C  -A única coisa que eu consigo reparar nesse momento é nesse sol de enfeite. HUNF. PRa quê um sol que não esquenta?
L - Você vai ficar melhor se eu te pagar um chocolate quente quando chegarmos na faculdade?
C - Mané me pagar um chocolate quente! Você mal tá pagando a passagem do busão!
L - EEEEEEEEEEEEEI! Sou pobre, porém honrada! Ainda tenho dinheiro pra pagar um chocolate quente pra minha amiga! OLHAÍ, o ônibus chegou! Vamos!
Aquele sistema de enfiar as moedinhas na máquina até dar o valor da passagem ainda era novo pra Laura e Cecília. Elas ficaram meia hora pra conseguir descobrir aonde enfiar as moedas, e mais meia hora pra enfiar todas elas no buraquinho, formando uma fila atrás delas, deixando o motorista impaciente e as pessoas que já estavam sentadas, beeeem irritadas. Quando elas foram procurar um lugar pra sentar, se sentiram como dois ETs. TODOS OLHAVAM PRA CARA DELAS.
C - Ah, vão pro inferno, todos vocês. - Cecília resmungou em português mesmo, o que fez Laura cair na gargalhada. E aí a Cecília percebeu que aquilo deixava as pessoas confusas, além de ser mega engraçado. Conclusão : Cecília foi o caminho inteiro ofendendo as pessoas em português e fazendo Laura quase se molhar toda de tanto rir. Aquilo melhorou o humor de Cecília, e quando chegaram à faculdade, ela nem parecia mais a Cecília rabugenta que tinha entrado no ônibus.
Como prometido, Laura pagou o tal chocolate quente pra amiga. E então chegou a hora mais difícil : ir cada uma pra sua sala. De todas as merdas e encrencas que elas já tinham se enfiado até aqui, essa era a primeira vez que elas teriam de se “separar”. Isso assustava. Mas era um desafio novo, e todo investimento que elas fizeram não poderia ser à toa. Era hora de encarar o desafio.

Cecília entrou na sala. Carteiras e mais carteiras. Algumas pessoas já estavam sentadas. Ela se sentiu a Laura no primeiro dia de aula, procurando um lugar pra sentar. Sentou-se numa carteira encostada à janela, a terceira. E lá ficou, quieta, olhando pra porta, pra ver se achava alguém que lhe desse um sorriso e lhe oferecesse uma oferta de amizade.
E então Cecília olha pra porta e começa a rir. Uma garota ruiva, de boina, com uma bolsa de dança enorme, toda atrapalhada, entra tropeçando pela porta, tentando segurar o copo de café com uma mão e o celular com a outra. Pior de tudo: a menina sentou-se ao lado dela. OK, ela tinha mesmo pedido por um amigo. Mas tinha que ser logo a menina atrapalhada? Como se já não bastasse a Laura de desastrada na sua vida, e ela própria, agora teria mais uma... “mas pera, o que é que eu tou pensando? Eu nem sei se a garota vai querer ser minha amiga! Aliás, nem sei se ela vai reparar em mim aqui!” - pra quem ainda não percebeu : SIM, Cecília faz drama e sofre por antecipação. Mesmo assim, ela arriscou um sorriso quando percebeu a menina olhar pra ela.
C - Você... quer uma ajuda?
P - Sério? Você pode segurar o meu copo pra eu tentar me desenrolar dessa alça? - e já foi logo dando o copo na mão de Cecília. Quando ela finalmente conseguiu se livrar da bolsa, guardar o celular e pegar o copo de café de volta, sentou-se e estendeu a mão. - Meu nome é Paige. Nice to meet you!
C - Nice to meet you, too! Eu sou a Cecília.
As duas começaram um papo super engajado, e quando viram, o professor já tinha entrado na sala e começado a falar há tempos.
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Laura analisou a sala de ponta a ponta e escolheu o lugar mais próximo a mesa dos professores, mas não a primeira carteira... Já era taxada como nerd em todo canto, não precisava de mais essa. Brasileira, sem dinheiro e nerd, muitos adjetivos pra um dia só!
Outras pessoas começaram a chegar e ela foi ficando apreensiva, já imaginava que tipo de gente a cercaria dessa vez e se fosse preciso, será que encontraria ao menos uma pessoa que a entendesse como no colégio? Quase se esquecera de que seriam apenas 6 meses, para quê se preocupar tanto?
Um garoto entrou na sala, olhando cada canto como ela havia feito e isso a resgatou de seus pensamentos, de repente ele começou a andar e parecia vir em sua direção, ela inclusive teve a impressão de que ele olhara para ela, mas havia de ser só impressão.
“Não não não, na minha frente não!” – Pensou Laura, torcendo para que ele fosse para o fundo da sala. Então aconteceu o que temia! O coitado escolhera o lugar de nerdice sem fim. Acima da angústia, sentira pena dele. Será que nunca sofrera bulliyng na escola? Achou que não.
O professor então chegou, todos se sentaram em qualquer lugar que havia sobrado e aquietaram-se. Um homem alto e magro, de paletó, com uma mecha branca a frente dos fios de cabelo. Laura olhou para ele e se lembrou daquele jornalista, como era mesmo o nome dele? Teve vontade de rir, mas ninguém entenderia a piada. William Bonner, isso!
Então William começou a aula se apresentando, e seu nome por coincidência era exatamente esse.
Mostrou a grade de aulas que daria nos próximos dias, passou a lista de materiais que ele necessitaria e pediu para que todos os alunos se apresentassem, um a um.
Pra variar começou pela fileira dela.
Já não tinha ido muito com a cara de seu “vizinho” da frente, quando ele disse seu nome ela quase não se aguentou de vontade de rir e pensou que era bom mesmo que Cecília não estivesse ali, não teria controle sobre si olhando para ela que entenderia todo o motivo de graça na mesma hora.
Se surpreendeu com uma garota brasileira do outro lado da sala que se apresentou dando um tchauzinho para Laura... Se sentiu tão sociável retribuindo, logo no primeiro dia. Parabéns Laura!
No decorrer daquela aula conheceram melhor suas câmeras, para que servia cada botão e opções, ainda meio por cima, mas foi assim até terminar.
Todos levantaram de seus lugares para deixar a sala, enquanto Laura guardava suas coisas olhou para a garota brasileira na esperança de que pudesse conversar com ela, a viu então conversando com outra menina, reparou que a maioria já estava socializando com as pessoas que se sentaram perto delas, já começou a se desesperar novamente, pegou sua bolsa e saiu da sala com tanta pressa que mal notou um dos alunos que já estavam fora da sala voltando para dentro dela, trombou na pessoa com tanta força que quase perdeu os óculos.
- Sorry! Esqueci meu caderno aqui e vim buscar e não te vi saindo, me desculpe mesmo!
- Ok. – Disse ajeitando os óculos de volta ao lugar. – Também não te vi, tá tudo bem.
Virou-se de costas, saindo dali a passos firmes, quando avistou Cecília. Era um alívio finalmente rever a amiga, embora a visse conversando com outra garota aos risos. Não sabia se gostava daquilo!
De qualquer maneira continuou ao encontro das duas que pareciam falar sobre ela, só podiam estar rindo da trombada com o infinitamente nerd de sua sala.
O garoto de nome estranho... quer dizer, estranho mesmo se ele morasse no Brasil. Será que ele imaginava que Zachary é Zacarias no país dela e que seria muito zoado por lá?

Cecília apenas não sabia o que lhe esperava pela frente – pensou Laura. – As histórias dela tirariam a atenção daquela outra garota rapidinho, pelo menos era o que esperava.