19 de set. de 2013

Capítulo 2

Quatro semanas se passaram.
Laura finalmente tinha toda a grana de que precisava. Ligou para Cecília.
L – Vem pra cá. Hoje vamos fazer nossa inscrição na faculdade.
C – Laura, LAURA, calma, respiiiiiira! Preciso ver se minhas economias dão pra isso!
L – Cecília, me poupe, vai. Você vem salvando grana desde que tinha DOZE anos de idade!
C – Okay, verdade. Mas já usei um pouco. Meus livros da faculdade não eram NADA baratos.
L – Ainda assim, Cecy, você deve ter mais dinheiro do que eu, te garanto!
C – Falando nisso, Laura, quais são seus planos? Como vamos nos manter em Seattle por 6 meses? Quer dizer, vamos precisar de um emprego, eu acho.
L – Okay, quando a gente chegar lá, resolvemos isso. A única coisa que a gente precisa, e AGORA, é fazer a inscrição. Ainda temos que ser admitidas. Não esqueça de trazer seu TOEFL score! Você vai precisar dele. Já ta vindo?
C – AAAAAI LAURA! Quando você enfia alguma coisa na cabeça, agüenta você, né? Já tou indo, dá 15 minutos que já chego aí.
Cecília foi até sua gaveta, separou alguns documentos dos quais precisava (incluindo o TOEFL score), colocou tudo na bolsa, pegou a chave do carro e desceu as escadas. Encontrou sua mãe na sala, recém-chegada do trabalho.
C – Oi mãe, já chegou?
A – Saí mais cedo hoje... então, onde você tava indo?
C – Vou na Laura. Parece que ela precisa de ajuda com... – Cecília escolheu bem as palavras. Sua mãe não precisava saber que ela ia estudar em Seattle, junto com Laura, ainda mais fazendo dança. Ainda não era hora de ela saber.  – umas coisas que ela trouxe do banco. Ela precisa dar baixa em um monte de títulos de protesto para amanhã.
A – E é permitido isso? Trazer coisas do banco pra casa?
C – Não é, né mãe, maaas enfim, o que ela ia fazer? Ela não pode ficar além de seu horário, então a solução foi trazer o serviço pra casa... – Cecília estava nervosa. Odiava mentir para sua mãe. – Bom, tô indo que ela ta me esperando... eu provavelmente demore lá, então nem precisa me esperar pra jantar. Já está tudo pronto na geladeira, é só esquentar!
A – Obrigada, filha.
C – Tchau mãe, até mais tarde.
Cecília entrou no carro, ainda tremendo um pouco. Ela ainda precisava achar uma boa desculpa pra dar à mãe. Ela não podia simplesmente chegar de uma hora pra outra e dizer : oi mãe, tou indo estudar dança em Seattle, beijo tchau! Ela sabia que o sonho da mãe era vê-la e seu próprio restaurante, e toooodo aquele bla bla bla que ela já conhecia de cor e salteado, desde os seus 15 anos. Cecília e Laura tinham acabado de se formar. Nem tinham um emprego decente ainda. Laura trabalhava no banco, como funcionária temporária, até que ganhava um salário bom pra primeiro emprego, e Cecília trabalhava como recepcionista bilíngue numa empresa de logística. O que já estava a deixando meio de saco cheio. Aquilo não era pra ela. Ficar o dia inteiro sentada atendendo telefone, mandando e-mails, recebendo pessoas, preparando reuniões, comprando passagens aéreas pros diretores... ela é quem queria estar viajando! Mas pera... não era exatamente isso que elas iam fazer? Foi o que ela pensou, enquanto dirigia para a casa de Laura.
Estacionou o carro, e tocou a campainha.
H – Oi Cecy! Tudo bem? Veio ver a Laura?
C – Oi dona Helena! Vim sim, onde ela ta?
H – No quarto, ela ta cercada de coisas do banco... uns papéis de títulos de alguma coisa, num entendi direito o que ela me falou.
C – AHAHAHA, sim, claro, foi por isso que ela me ligou, pra eu ajuda-la. Ela sabe que eu digito super rápido, aí fica abusando das minhas mãos, porque ela não pode ter tendinite, mas eu sim, né! Certinha ela! (Cecília ria. Até as mentiras que as duas contavam eram iguais, Deus, elas tavam perdidas na vida mesmo.)
H – Ai, vocês duas... posso jurar que vocês devem ter sido irmãs em uma outra vida!
C – Talvez... – Cecília não acreditava nessa coisa de “outra vida”. Vida era uma só, era essa, era agora. Se existisse mesmo essa parada aí, porquê deixar a outra vida, que deveria ser melhor do que essa, pra vir pra esse mundo sofrido, onde filhas “exemplares” tinham que mentir pra mãe, só pra não desaponta-las? É, Cecília ainda estava meio tensa com toda essa história de viagem... puta merda, a Laura só a metia em roubada!
H – Bom, parada aí na porta é que você não pode ficar, né? Sobe lá no quarto da Laura, quando o jantar estiver pronto, eu chamo vocês... você fica pra jantar conosco, né?
C – Provavelmente sim, dona Helena!
Cecília subiu. Entrou no quarto de Laura (ela nem batia na porta, não precisava disso. Cecília já era da casa) e a encontrou na frente do computador, com a cara mais perdida do mundo. A mesma cara que ela estava no dia em que se conheceram...
“Caramba! Quem é essa? E que cara de medo é essa? Será que ela é aluna nova? Coitada, ela vai ter a maior dificuldade do mundo pra fazer amigos. Vou desejar boa sorte, ela vai precisar.” – Cecília tinha acabado de chegar na sala de aula, estava super empolgada pelo primeiro dia na escola, reveria todos os seus amigos, e aquele era um ano especial, era o último ano da turma no chamado “primário”. A partir do ano que vem, eles estariam na 5ª série, e seriam “ginasiais”. Não via a hora de rever as amigas. Dois  meses longe da turma tinha sido bastante tempo. Ela tinha se divertido tanto nas férias! Não via a hora de contar para as amigas como tinham sido as férias na Europa.
Sentou-se em sua cadeira cativa (desde a primeira série, a disposição das carteiras era a mesma) e ali ficou, esperando as amigas. Elas foram chegando, uma a uma. Cada abraço, cada  gritinho empolgado, já era esperado. E a menina nova continuava ali, parada, com o olhar perdido e a expressão de quem estava com muito medo do que viria a seguir.
Cecília estava incomodada. Será que ela não iria sentar? Virou-se para as amigas e perguntou se podia chamar a menina nova para se sentar junto com elas. Algumas disseram TANTO FAZ, outras não gostaram muito da idéia, mas quem não gostou mesmo foi Beatriz, a “líder” da turma. Bom, Cecília e ela já não estavam se dando muito bem mesmo, ultimamente Beatriz andava por aí como se tivesse o rei na barriga... ela foi até a menina, e passou a mão na frente do seu rosto, pra se certificar de que ela estava realmente ali e que não iria falar sozinha, como se estivesse falando com uma parede.
C – Olá-ááá... tem alguém aí?
Laura se assustou. De verdade.
L – Puxa! Desculpe, me assustei.
C – Nossa, eu sei que não sou lá essas coisas de bonita, mas as pessoas por aqui geralmente disfarçam, sabia?
L – Não, não é isso! É só que... eu... to meio perdida. Num sei direito o que fazer.
C – Bom, acho que você poderia escolher uma cadeira e se sentar. Aproveita que a sala ainda não lotou, e tem um monte de carteiras disponíveis.
L – E-Eu... eu posso me sentar naquela ali? – apontou para uma carteira ao lado da de Cecília.
“Ai caramba, justo naquela... a Beatriz vai ficar uma fera...  bom, e daí também, né, não tenho nada a ver com os chiliques da Beatriz.”
C – Pode. Vamo lá.
Laura se sentou ao lado de Cecília. Não demorou muito, e a maior parte da turminha de Cecília já estava a excluindo dos papos.
Dias se passaram. Cecília passava os intervalos tentando inserir Laura na turma. As meninas reclamavam, falavam que Laura não tinha nada a ver com elas. “Aqueles óculos enormes são muito bregas!”, elas diziam. Cecília, sem saber direito o porquê, se sentia bem com Laura.
Até o dia em que chegou a Beatriz, com todo seu nariz empinado e sua pompa de princesa, e disse a Cecília que ela teria de escolher entre a turma e a Laura. E ela, com o maior orgulho do universo, encheu a boca e disse : Eu escolho a Laura!
Laura não podia negar que estava muito feliz, Cecília tinha sido gentil com ela desde o começo. Mas, por trás dos óculos enormes de aro grosso, os olhinhos dela continuavam amedrontados...”

E foi olhando pros olhos de Laura que Cecília lembrou-se de voltar para a realidade.
C – Laura... você tá com  a mesma cara de quando eu te conheci... o que foi agora? Num vejo uma sala de aula cheia de idiotas na nossa frente!
L – Ainda não... mas terá. Logo menos.
C – Quer desistir? Ainda dá tempo!
L – Mané desistir! Você sabe que eu não sou de desistir do que eu quero! Nós vamos, e pronto.
C – Sabe, Laura, tem horas que eu me arrependo de ter ido te chamar pra sentar do meu lado, lá na quarta série. Você só me mete em encrenca.
L – Mas fala que você adora se meter em encrenca comigo... não adora?
C – Éééééé... NÃO!
L – Okay, Cecy... se você não quiser fazer isso desta vez, sem grilos... vou sozinha... –e Laura virou-se para a tela do computador outra vez.
Cecília se aproximou dela, a abraçando.
C – E quando foi que eu deixei você se meter em furada sozinha? Nós temos um trato, não temos? TAMO JUNTA, parceira!
Laura gargalhou tão alto que a mãe gritou lá de baixo o que é que estava acontecendo.
L – Nada, mãe! Você sabe como a Cecy é palhaça!
C – E ainda saio de idiota na história... ai ai... bora dona Laura Azevedo, faz logo essa inscrição aí, antes que eu me arrependa.
Cecília e Laura sentaram-se uma do lado da outra. Começaram pela inscrição de Cecília, no curso de dança.
Logo após, Laura fez a dela, no curso de fotografia.
L – Pronto!
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Zac fechou o notebook.
Z – Feito. Daqui um mês, começam minhas aulas. Já podemos começar a procurar algo em Seattle?
T – Zac, eu preciso conversar com a Rachel. Ela não pode sair daqui agora, ela tá no meio da faculdade dela... e eu vou ter que ir com você, não tem jeito. Não sei como ela vai reagir à isso.
I – Taylor, também num precisa de tanto drama. Daqui a 6 meses, estaremos de volta. Aliás, vai ser bem bom vocês se afastarem um pouco, porque o que vocês têm brigado ultimamente, olha, num tá fácil aguentar vocês não!
T – Como assim, Isaac? Quando foi que eu briguei com a Rach na frente de vocês?
I – Você não briga com ela na nossa frente, mas depois temos que aguentar o seu mal humor.
Z – É verdade, Taylor. E Isaac, o que você vai fazer com a Ashley?
I – Vou fazer o quê? NADA, oras, não tem o que se fazer. Eu e ela ficamos umas 4 vezes, nada mais. Não quero ter compromisso com ninguém nessa altura do campeonato. Temos que focar na NOSSA gravadora, no NOSSO CD... isso é que é o importante agora. E, claro, o curso de fotografia do Zac.
Z – Okay, olhem só, achei este pra gente locar... o que acham? – Zac virou o notebook para os irmãos. Era uma bela casa em Capitol Hill.
I – Três quartos... é tá bom, gostei.
Z  -Beleza! Já vou entrar em contato com a mulher, podemos ir pra lá semana que vem e ajeitar as coisas, o que vocês acham?
T – Espera eu conversar com a Rachel primeiro, Zac?
Z – Tudo bem, Taylor. Você tem até amanhã pra falar com ela.
Taylor não precisaria de todo este tempo. No mesmo instante, pegou as chaves, e saiu.
A conversa com a Rachel não seria fácil... a relação dos dois já andava meio estremecida. Agora então, com ele indo pra Seattle... ele tava apostando que ela não ia curtir nada essa história.
E foi mesmo. Ela não curtiu. E Taylor voltou pra casa mais triste, mas também mais leve.
I  -E aí, Taylor, como foi com a Rachel?
T – Bom, foi basicamente isso : eu falei que ia pra Seattle, ela perguntou o porquê, disse que o Zac iria fazer um curso, e que nós 3 não poderíamos ficar separados agora, ela disse que não havia necessidade nenhuma de eu ir, que o Zac é grandinho e sabe se virar sozinho, e aí eu expliquei que ele REALMENTE não pode ir sozinho, ela ficou brava, e aí eu disse que era melhor a gente dar um tempo. Nem preciso dizer que ela ficou FULA da vida, né... enfim, tou tranquilo agora. Acho que já brigamos tudo que tínhamos pra brigar, e vamos ter 6 meses de paz...

Z – Ou não, né? Vai saber...

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