25 de set. de 2013

Capítulo 3

Cecília havia acabado de contar aos pais sobre os planos da viagem, quando Laura chegou a sua casa toda esbaforida, visivelmente abalada. Já no quarto:
C – Ei, qual é o problema com você?
L – Cecília, não sei o que fazer... Tenho organizado tudo, inclusive conversei com meu chefe, fico até o fim do mês no banco, depois me mando de lá! Mas minha mãe, isso será o maior problema, todo dia acordo, me olho no espelho e me encorajo a conversar com ela, mas quando estamos cara a cara tenho até vontade de chorar.
C – Laurinha, amiga, diga a ela qualquer coisa, que vai fazer um intercâmbio pra melhorar seu inglês, ela vai ficar toda feliz, tenho certeza! Não conte a verdade, você vai arranjar uma discussão sem necessidade.
Laura sabia que devia seguir o conselho da amiga, inventar uma desculpa, não contar a verdade para evitar brigas, era óbvio que sua mãe teria um ataque ao saber dos reais planos da filha para os próximos meses.
No fundo, Laura desejava mesmo é que seus pais a apoiassem a seguir a profissão que mais queria, mas se não podia ser assim, ela prometeu a si mesma que não desistiria, mesmo que precisasse conquistar tudo sozinha, mesmo que precisasse enfrentar tudo e todos.
L – Foi isso o que você fez?
C – Exatamente! Disse a minha mãe que farei um curso complementar de gastronomia rápido em Seattle, tudo certo, sem questionamentos. Eu já cozinho bem, levo jeito pra coisa naturalmente, você sabe... Ela nem vai notar!
L – Ai Cecy, só que pensa comigo, estou pedindo as contas no trabalho, não posso mentir também sobre isso, se ela descobrir depois será ainda pior.
C – Bom, você quem sabe. Eu só quero o melhor pra você, estou aqui pra tudo, ok?
L – Já sei, você me deu uma ótima ideia. Vai comigo falar com minha mãe.
C – Você tá louca garota? Que morra você sozinha, prometo que vou ao seu enterro tá?
L – Engraçadinha... Você vai comigo sim, preciso de você e se bem ouvi, estará aqui comigo pra tudo né?
C – Droga! Eu tenho mesmo que tomar cuidado com o que falo perto de você... Ok, eu vou, eu vou. Quando pretende fazer isso?
L – Ai, te amo amiga – Disse lhe dando o sorriso que só os amados de Laura o conheciam – Obrigada, obrigada! Você tem sido a melhor amiga de todas do mundo inteirinho.
C – Quando Laura? – Disse Cecília fingindo um mal humor.
L – Bom, temos cerca de duas semanas, o que você acha?
C – Por mim iríamos lá agora mesmo, seus pais estão em casa?
L – Ai meu Deus Cecy, será? Eles estão sim.
C – Vamos. Chega de sofrer de ansiedade, se você está tão decidida como eu sei que está, as coisas irão acontecer de uma maneira ou de outra. Vem! – Disse segurando em seu braço e a levando para sua casa.
Um momento depois estavam na porta de Laura, ela respirava fundo e ensaiava para abrir a porta.
C – Vai amiga, eu to aqui.
Laura abriu a porta e deu de cara com a mãe indo da cozinha para a sala, onde o pai estava.
C – Olá dona Helena! Olá Sr. Mário.
M – Olá!
H – Oi Cecília. Laura, você está bem? Está meio pálida.
As duas garotas sentaram no sofá que estava vazio, enquanto Laura procurava por onde começar.
L – Mãe, pai, preciso conversar com vocês.
M – Aconteceu alguma coisa?
L – Mãe, eu larguei meu emprego.
H – Como? Porque? A Joana conseguiu a vaga pra você, disse que havia muitas chances de você fazer carreira lá dentro, não entendo.
L – Vocês sabem que desde o início não concordo em levar essa vida administrativa que sonham pra mim não é? Estive no banco esse tempo com apenas um objetivo. Hoje tenho como me bancar para fazer o curso de fotografia que tanto quero e em Seattle, me matriculei há alguns dias, já tenho onde ficar e espero conseguir um “bico” por lá. Eu e a Cecy... - Ela teve que respirar fundo antes de continuar - viajamos daqui duas semanas. – Terminou jogando as palavras como se tivesse medo de perder a coragem.
H – Fotografia? Em Seattle? Você pirou de vez. Vocês estão juntas nisso? – Indagou apontando para as duas no outro sofá.
C – Sim dona Helena, vou fazer um curso de gastronomia no mesmo lugar que a Laura, minha mãe já sabe e está de acordo.
Um silêncio enorme se fez na sala, no rosto de Helena havia apenas indignação, até que todos ficaram incomodados com isso. Helena já ia abrindo a boca para dar o maior sermão da montanha na Laura (como já era esperado por ela e até por Cecília, que conhecia a mãe da amiga muito bem) , mas foi cortada pelo marido.
M – Deixe ela ir.
H – O quê? Como assim Mário?
M – Você ouviu bem, deixe ela ir. – E mesmo que falasse com a mulher, olhava diretamente para Laura. - Já se matriculou e arrumou lugar para morar, isso não me parece um pedido, e sim um comunicado. 6 meses bancando a si mesma, curso, aluguel, contas, lavando a própria roupa, fazendo a própria comida. Eu espero que isso dê um rumo para você, minha filha – Finalmente se dirigindo diretamente a ela. – É hora mesmo de você amadurecer.
L – Pai, me desculpe! Não quis ofendê-los indo atrás de tudo sem comunicá-los, é só que se não fosse assim não seria, entende? Me dêem 6 meses, se isso não der certo, prometo que desisto e faço o curso que vocês quiserem daí em diante.
Cecilia arregalou os dois olhos, por um momento sentiu medo pela amiga, era o sonho dela que estava em jogo.
M, H – Fechado! – Os pais concordaram juntos se entreolhando.
L – Ok, combinados.
Se levantou, com uma expressão muito séria, puxando Cecília consigo para fora da casa, ao passarem pela porta desabou em lágrimas, recebendo um abraço da amiga.
C – Amiga, não fique assim, são seus pais, eles querem o melhor pra você, é normal. Eu estarei lá com você e não te deixarei cair ok? Vamos conseguir, tenho certeza.
L – É isso. Eu vou mostrar pra eles que não estou errada. Vamos conseguir amiga. – Secou as lágrimas, se despediu de Cecília que voltou pra casa e subiu para o seu próprio quarto.
Foi uma noite difícil de dormir, mas após algumas horas pegou no sono e sonhou com Seattle.
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D - E vocês já arrumaram tudo por lá? Casa, estúdio para ensaiarem?
Z - Sim, mãe, já está tudo certinho nessa parte. Semana que vem nós já estamos indo pra lá. Minha matrícula no curso também já está certa. Agora é só ir... e dar o melhor de mim.

Diana sorria, ao ver o filho tão determinado por algo que queria. De seus três filhos mais velhos, ele sempre tinha sido o que menos tinha exposto seus sonhos e vontades a ela. Sabia que ele deveria mesmo querer isso, pois tinha movido céus e terra, e até convencido os irmãos (em especial Isaac, que ela conhecia bem e sabia que não tinha um gênio nada fácil) a estarem ao seu lado. Ela estava com medo? SIM. Mas ela se sentia ainda mais orgulhosa do filho. Eles realmente estavam crescendo.

D - Filho, você quer que a mamãe vá junto com vocês, pra decorar a casa, colocar algumas coisinhas na geladeira? Eu fico lá por uma semana, e depois volto... seu pai pode cuidar das coisas aqui por mim.
Z - Mãe, obrigada, de coração, mas realmente não é necessário... a Zöe ainda é pequena e muito dependente da senhora. E outra, tá mais do que na hora de a gente aprender algumas coisas com a vida, né? Mas eu agradeço, mãe, de coração.

Diana concordou, Zac estava certíssimo. Seus três filhos mais velhos nunca tinham sido do tipo rebeldes e ingratos. Pelo contrário, desde pequenos, sempre agradeciam tudo o que a mãe fazia para eles, até quando ela ia guardar as roupas limpas nas gavetas. Isaac foi o primeiro, Taylor observou e pegou isso de Isaac, e passou também para Zac. Diana não poderia, nem por um instante, imaginar que eles não se virariam bem em Seattle. Ela sabia que eles iam dar conta de tudo... e sabia também que, esse tempo só para os três, seria ótimo para que eles se descobrissem melhor como banda, como irmãos e como indivíduos.

Walker acertava todos os detalhes "administrativos" com Isaac. Desde que começaram a ser uma banda e ganhar muito (é MUITO mesmo) dinheiro, era Walker quem cuidava de tudo para eles. Walker nunca gastou UM CENTAVO do dinheiro dos filhos, mesmo quando eles estavam em turnê pelo mundo, quando tinham tempo livre para passear, Walker levava a família toda para parques, museus, tudo com o seu próprio dinheiro. Sua posição na petrolífera o permitia que trabalhasse em qualquer lugar do mundo, de maneira que eles nunca ficariam desamparados. Quando os meninos cresceram, eles cogitaram pagar um salário ao pai, já que ele era o empresário deles, mas Walker não aceitou. Ele não achava certo, quem tinha se apresentado eram os meninos, portanto o dinheiro era todo e exclusivo deles. Eles nem faziam idéia de quanto dinheiro tinham em sua conta. Teriam agora, e Walker esperava, do fundo de seu coração, que eles não deixassem o dinheiro subir às suas cabeças.

Zac e os irmãos acertaram todos os detalhes para a partida com os pais, e quando ele menos esperava, era hora de arrumar as malas para partir nessa aventura de 6 meses que, com certeza, mudaria muitas coisas em sua vida.

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Laura estava sentada no meio de seu quarto, com a mala aberta e as roupas em cima da cama. Ela realmente não sabia o que ia colocar lá dentro. Talvez colocasse tudo? Afinal, eram 6 meses, e não 6 dias.

Alguém batia na sua porta.
"ENTRA!" - ela gritou, mesmo sem a menor vontade de receber alguém naquele momento. Ela precisava se concentrar, realmente se concentrar, na arrumação da mala (e ela ia ter que fazer esses 6 meses caberem numa mala só, foi a única mala grande que seu dinheiro restante pôde comprar), e alguém a atrapalhando nesse momento não iria ajudar em nada.

M - Atrapalho? - o pai perguntou, sabendo exatamente o que se passava na cabeça da filha. Ela achava que não, mas o pai a conhecia como a palma da sua mão.
L - Claro que não, pai... eu só tou meio perdida com a mala... não sei o que levar. Tem que caber 6 meses de vida nessa mala.
M - Tenho mais uma para você. - revelando o que tanto escondia atrás de si desde que entrara no quarto, estendeu a imensa mala azul céu para ela, a cor que ela mais gostava.
L - Pai... o senhor não precisava ter comprado uma mala para mim. Eu já tinha comprado uma, e eu disse que não queria gastar o dinheiro de vocês, que eu ia fazer tudo por conta própria.
M - Sim Lau, eu sei disso tudo. Mas eu posso ao menos dar um presente de "independência" pra minha filhinha, que tá saindo de debaixo das minhas asas pra voar sozinha?

Laura riu pro pai... a única coisa que ela não queria agora era chorar, portanto, ela tratou de levantar e abraçá-lo. Segurou as lágrimas que já queriam correr pelo rosto, respirou fundo. E sorriu. Queria mostrar pro pai que ela tava confiante e que tudo ia dar certo, mesmo que ela estivesse morrendo de medo por dentro.

M - Lau... eu só queria que você soubesse que, se precisar de qualquer coisa, eu estarei aqui. Eu e sua mãe.
L - Mamãe não gostou muito da idéia de eu ir estudar fora, ainda mais fotografia. Por ela, eu ficaria a vida inteira enfurnada naquele banco, e eu não quero isso pra mim, pai...
M - Filha, eu sei que você não quer isso. Sua mãe tem sonhos e expectativas pra você, tente entendê-la. Assim como eu tenho tentado fazê-la entender que os sonhos dela não são e nem podem ser os seus. Você é uma pessoa completamente diferente dela. Ela não pode querer que você seja o que ela queria ter sido... querida, de minha parte, tenha certeza de que eu estarei sempre te apoiando. Acho mesmo que esse tempo será ótimo para você, para que você se descubra. - ele percebeu que a filha estava segurando o choro. Sabia que ela era orgulhosa demais para demonstrar seus medos. Ele mesmo era assim. - Bom, vamos arrumar essas malas? - o pai sentou-se na cama e começou a pegar as roupas dela, uma a uma.  - Isso não, né Lau? Isso é brega demais!
Ela e o pai ficaram ali, sentados, rindo, por horas.

Cecília passava pelo mesmo dilema : O QUE LEVAR?
As trezentas malas roxas, no chão, aguardavam ansiosamente por roupas. Uma coisa ela já sabia : teria que levar uma mala apenas para os seus sapatos. Com isso ainda lhe sobravam duas malas. E ela teria que fazer todos os seus vestidos, saias, blusinhas, calças, casacos e afins caberem ali.
C - Vaaaaaaaamo Cecília, pensa... você consegue. Faz uma lista.
Ela pegou um papel e começou a listar tudo o que achou que seria interessante levar.
A irmã bateu na porta do seu quarto.
Cl - Cecília? - ela abriu uma frestinha e ficou olhando por ela.
C - Entra, pirralha!
Cl - A mamãe tá te chamando pra jantar... o que aconteceu? Passou um tornado por aqui, é?
C - HAHAHA, engraçadinha. Não tem tornados no Brasil.
Cl - AINDA. Mas terão. O clima está ficando doido, e você tá percebendo.

C - PUTZ, você tá ficando nerd que nem a Laura. ARMARIA, num vou aguentar duas nerds em minha vida... - Cecília olhou pras roupas no guarda-roupa e seu estômago roncou. - Ah, vamos comer, depois eu termino isso! - pegou a irmã mais nova pela mão e desceram para encontrar a mãe na cozinha.

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